sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Maneiras de ver, maneiras de pensar...














Esta é a história de um bonito quadro a óleo que se encontrava na posse de uma família sueca. Um quadro como qualquer outro, fechado num enorme quarto, desvalorizado, vulgarizado, deixado ao sabor de um pesado volume de pó. Até ao dia... o dia que a familia precisou novamente de se tornar solvente. Foi então, nesse momento de aflição, que decidiram vender o quadro por aquilo que a bondade de um qualquer comprador pudesse oferecer - uns tostões - o que fosse era bem-vindo para malbaratar aquela bujiganga guardada há tanto tempo. Foi assim que correram todos os estabelecimentos de arte possíveis e imaginários, mas por "malapata", nenhum dos "connaisseurs" deu qualquer valor àquela inútil pintura.

E assim, decidiram leiloar aquele empecilho. Estipularam que a licitação mínima seria de 1600 Euros por se tratar de uma simples peça pintada por um dos disciplos de Rubens. Só que para a fortuna daquela família, o quadro foi novamente examinado por especialistas. Estes, chegaram à conclusão que se tratava de um fresco pintado pelo próprio Rubens e não, como se pensava, por um dos seus disciplos. O resultado foi o de um aumento, não de cem porcento , nem sequer de mil porcento da obra, mas uma subidinha de 1600 para 1,8 milhões de euros (licitação final). O quadro estrangeiro mais caro, vendido na Suécia.

Nos dias que correm, as pessoas não querem saber da obra em si mesmo. Só do valor que lhe é dada. E não só do seu valor económico, mas também se estão nas tintas para o seu valor artistico ou real. O que quer dizer com isto o autor ? Quer dizer que andam ai muitos "pseudo-connaisseurs", talvez 99.9% da população, que dizem que gostam disto ou daquilo, que respeitam este ou aquela autor, simplesmente pelo peso do seu nome e não pela importância ou pelo gosto que nutrem pela sua obra. A realidade é como diz o proverbio : " Ganha fama e deita-te a dormir".

A maioria pessoas não querem saber da beldade da arte, limitam-se a tentar descortinar, com base nos poucos conhecimentos história de arte que tem, o que está por detrás do quadro, ou o que ele faz lembrar em termos histórico-culturais.

Na prespectiva daquele que escreve, há duas maneiras de ser apreciado um fresco. Ou se tem grandes conhecimentos sobre arte (não é o caso do critico, nem da maior parte das pessoas), e então, fala-se e contesta-se sobre ela. Ou então, a única maneira de se apreciar arte é atravês da nossa imaginação e do nosso gosto. Pois, se formos sabedores por termos estudado, por alguém nos explicar o quadro, ou por termos ouvido uma gravação, podemos compreender o que lá está ; o que está por detrás da pintura e do pensamento do autor, e então, estaremos a ver um filme com legendas. De outra forma, esquecemos a base histórica do quadro e submetemo-nos à nossa imaginação. Apreciamos o que nos é dado à nossa maneira. Se gostamos, o quadro é bom, se não gostamos, o quadro é mau e assim apreciamos o mesmo filme, mas sem legendas.

A mesma coisa se passa para o vinho, café, fotografia e tudo o resto. Ou se conhece bem, se avalia atravês de padrões ou conhecimentos, ou então, admitimos a nossa ignorância e dizemos que gostamos simplesmente por o facto de gostar (por mil e uma coisas que não, criticas superficiais). O problema é que a maioria das pessoas não o faz, limita-se a dizer que a obra "x" de Picasso faz lembrar-lhe o seu período Rosa ou que muitas das inspirações de Miguel Angelo são provenientes da obra de Dante, ou o raio que o parta!

E neste caso, o que aconteceu foi que ninguém apreciou o quadro, mas agora, todos vão dizer que o quadro fazia lembrar uma enorme comoção barroca, que é uma obra de excelência e terá provávelmente uma sobrevalorização por simplesmente ser daquele e não doutro autor.

O autor acha simplesmente triste darem mais valor ao artista do que à obra. Um artista pode pintar algo bom e nunca mais o fazer. Tal como o café de Angola ter potencial para ser o melhor do mundo e nem sempre o ser pela maneira como é trabalhado. Bom, mas assim vai o mundo...

2 comentários:

Anónimo disse...

Gosto da maneira como consegues levar o leitor, quando te leio... ha tanto e tao pouco para dizer ao mesmo tempo, mas tudo tem sentido, é algo que se sente, nao se explica, c'est un moment furtif qu'on ne peut palper réellement de ses doigts, é assim que eu me sinto agora. Abraçar o vento, a arte é simplesmente pessoal...

Crominho disse...

até parece miuda :P. Não escrevo nada de jeito mesmo, simplesmente gosto de escrevinhar de vez em quando.
Mas muito obrigado, és um querida mesmo.